terça-feira, 20 de abril de 2010

O que está em jogo em 2010

No blog sobre as eleições o aluno Cássio Freitas postou um texto sobre o que está em jogo nas eleições de 2010.


Lulistas sinceros acreditam que o presidente está realizando um avanço social maior do que o próprio Getulio Vargas. Os que divergem desse ponto de vista não sabem "o que realmente está em jogo em 2010". Portanto, o ponto a discutir com eles diz respeito a esta questão.

O fenômeno Lula tem um efeito social real, independentemente do êxito ou do fracasso do seu governo.
O caso dele é semelhante ao de Obama. É o fato de um negro ocupar a Casa Branca que tem um efeito não identificável diretamente, mas certamente muito forte, na sociedade norte-americana. Os Estados Unidos não serão os mesmos depois de Obama, independentemente do que vier a acontecer com a sua administração: o povo negro percebeu que "pode".
A ascensão de um "pau de arara" à Presidência da República tem o mesmo significado: o povo percebeu que pode chegar lá. Portanto, o Brasil pós-Lula não será o mesmo. Mas o Brasil será esse?
Para quem se considera socialista esta não é a pergunta chave para definir o que está realmente em jogo em 2010, e sim esta outra: ao término do governo Lula, o Brasil estará mais próximo ou mais distante da ruptura socialista?
Cientes de que a resposta só pode ser negativa, os lulistas levantam a questão do futuro do Brasil mais em termos de ameaça aos que divergem da sua posição do que de esperança de grandes avanços, porque estão cansados de saber que, no pós-Lula, as políticas econômicas não serão muito distintas das atuais, seja eleito qualquer dos candidatos do campo da ordem estabelecida.
Fica valendo, portanto, apenas a ameaça: se a esquerda assumir uma postura divisionista, os tucanos vencerão e anularão todas as conquistas proletárias.
Ora, todos sabemos que, na medida em que o campo da ordem – hoje preponderante – for se tornando hegemônico, as conquistas da classe operária em épocas passadas irão sendo anuladas uma a uma. Não por outra razão, aliás, a campanha de 2010 está sendo diligentemente montada para atingir dois objetivos: incutir na mente do eleitorado que as coisas estão melhorando e que não há qualquer alternativa ao sistema capitalista.
Se a direita lograr atingir esses dois objetivos, a hegemonia neoliberal estará totalmente consolidada. O próprio povo passará a entender que, para poder melhorar de vida, os capitalistas têm que ser atendidos em todas as suas reivindicações. Claro que isto não significará o fim do socialismo porque o socialismo existirá enquanto um homem explorar outro. Mas adiará seu retorno à agenda política do país e isto representará milhões de pessoas esmagadas pela truculência do sistema.
Portanto, o que está em jogo em 2010 é a possibilidade (longínqua, mas real) de desarmar essa armadilha por meio de uma denúncia e de uma proposta alternativa que consigam sensibilizar uma parcela significativa do eleitorado.
Não façamos ilusões quanto ao tamanho dessa parcela. Não será grande. Porém, se criar uma base para expansão da proposta socialista, já representará um avanço político.
Na verdade, trata-se de uma tarefa quase impossível, dada a brutal desproporção entre os recursos dos candidatos do campo da ordem e os candidatos socialistas. Contudo, é a única saída autêntica para quem, perfeitamente a par da extrema debilidade da esquerda, vê na campanha eleitoral uma oportunidade mínima, porém valiosa, de lançar sementes para combater a consolidação da hegemonia burguesa.
Não venham, pois, os lulistas com cobranças históricas antecipadas. O que a história responsabilizará, isto sim, serão aqueles que não souberam ler corretamente a conjuntura.



Guilherme Justo

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