quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Violência e Discriminação Racial

A matéria foi elaborada e publicada no jornal Agência Facos, 06.06.2008, Infelizmente o tema continua atual. Basta observar o noticiário para perceber que a violência racial e sexista mantêm índices muito elevados.
Uma questão que precisa ser considerada na discussão racial é cumprimento da lei 10639, que objetiva a capacitação de professores sobre a história do povo negro.
Todos os professores já foram capacitados para incluir essa discussão, em sala de aula? 
Existe algum monitoramento ou acompanhamento sobre a aplicação desse conteúdo aos alunos?
As respostas precisam ser buscadas por todos e todas!

Por Cidinha Santos


Políticas públicas não impedem agressão racial

As políticas públicas ainda não são suficientes para solucionar os problemas de violência racial e desigualdade social existentes no Brasil. É o que afirma a coordenadora da Casa de Cultura da Mulher Negra, Alzira Rufino.

Na Baixada Santista, o encaminhamento dado às vítimas de racismo quase sempre tem o endereço da Casa que, por meio do departamento jurídico orienta e acompanha as pessoas até a delegacia. “É lá que, infelizmente, as autoridades tentam desqualificar o crime de discriminação racial para injúria e ofensa. Vivencio constantemente essa situação. A pior delas é o não fortalecimento da sociedade santista de brancos e negros para a manutenção e a sobrevivência da entidade que funciona desde 1990”, diz Alzira.

Segundo ela, no ano de 2007, a Casa de Cultura da Mulher Negra atendeu 298 pessoas do sexo feminino e dez do sexo masculino. A maioria das pessoas agredidas reside em Santos e São Vicente e estão entre as faixas etárias de 21 e 60 anos de idade, mas houve aumento da violência na faixa entre 11 e 20 anos.

Mesmo com 120 anos da abolição o Brasil ainda tem uma dívida histórica com a população negra na avaliação de Alzira Rufino. As políticas e as intenções precisam sair do papel, segundo ela, porque não é possível conceber um país desenvolvido com um povo inculto, que não reconhece os direitos mais que humanos da população negra. Alzira considera, ainda, que a dificuldade no levantamento de dados, que estão espalhados por diversas entidades e órgãos públicos, mostra como a sociedade brasileira está distante da solução das questões relacionadas à violência e à discriminação racial. A pesquisa mais atual foi realizada pelo Datafolha e pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em 2004.

Os números demonstram que 86% dos homens negros de São Paulo já foram parados pela polícia. Entre os jovens, a taxa chega a 91%. Outra informação apurada é a de que 43% da população negra encontra-se abaixo da linha de pobreza, enquanto entre a população branca esse número é de 20%.

Em qualquer ambiente existe a discriminação e violência racial, porém é no mercado de trabalho que a exclusão é mais visível. A elite não considera os direitos da raça negra fecha os olhos para a igualdade de oportunidades e é contrária ao sistema de cotas nas universidades, conclui Alzira Rufino.

A coordenadora, que também é responsável pelo Programa de Violência Racial da Casa de Cultura da Mulher Negra, acredita que as manifestações sociais foram importantes para discutir o movimento negro, culminando com a criação da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, órgão do governo federal responsável pela implantação de políticas públicas que visem promover a igualdade e a proteção dos direitos de indivíduos e grupos raciais e étnicos afetados pela discriminação e demais formas de intolerância, com ênfase na população negra.

Alzira concorda com as campanhas educativas realizadas pelo governo federal, mas reforça a necessidade do Estado, os partidos políticos e os sindicatos investirem mais na conscientização do povo. “A grande mídia, sobretudo a TV e as escolas, deveria cumprir o que determina a legislação,” diz, citando a lei 11845/2008. “Se for aplicada com responsabilidade pode corrigir, no futuro, a imagem que se tem dos negros” pois o ensino da cultura, história e resistência do povo negro e da África mostrado aos estudantes significa uma grande conquista para o Movimento Negro”.

Mesmo sendo militante, Alzira Rufino também sofre preconceito. “Cotidianamente sou discriminada em restaurantes e táxis por funcionários mal qualificados. As pessoas não tratam os negros com o devido, principalmente as mulheres negras”.

O jornalista esportivo Abel Neto relata que ainda é preciso pensar sobre o tipo de violência racial que é invisível para a sociedade. Trata-se da violência moral que deixa profundas cicatrizes na alma. “Sofro desde criança. Na escola e na rua onde morava, era freqüentemente xingado e conhecido por diversos apelidos pejorativos”, desabafa.

Assim como Alzira Rufino, Abel Neto critica a tentativa de classificar os crimes raciais e delitos de intolerância como injúria e difamação. Abel afirma que “raramente as leis são respeitadas porque se fossem muita gente estaria na cadeia. Esse tipo de fato ocorre principalmente nos estádios onde exerço minha profissão de repórter esportivo”.

Abel Neto ainda pondera que a legislação em vigor trouxe poucas mudanças. “Já fui parado várias vezes pela polícia de forma violenta, duas delas com policiais apontando metralhadoras e gritando para eu sair do meu carro com as mãos levantadas. Após constatarem que, apesar de negro, eu não era bandido, alegaram que uma pessoa havia dito que eu estava em atitude suspeita”.

O jornalista analisa que muita coisa precisa mudar para que o preconceito racial ou de qualquer natureza sejam superados, mas enquanto existirem pessoas acreditando que um ser humano pode ser superior ao outro por causa da cor da pele, nada irá mudar. “Infelizmente ainda existem milhões espalhados pelo mundo, inclusive no Brasil, que ainda é considerado, não entendo como, de democracia racial”.

1 comentários:

Quase Jornalistas disse...
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