Tradição versus modernidade – assim poderiam ser sintetizadas tanto a oposição política quanto a oposição midiática entre a Rainha Elizabeth II e o Primeiro-ministro da Inglaterra, Tony Blair. A oposição política, histórica e declarada, é explicada por se tratar, de um lado, de uma representante da Monarquia inglesa, uma das instituições mais bem estabelecidas da História Ocidental, e, de outro, o político do Partido Trabalhista, então recém eleito, com tendências modernizadoras e supostamente anti-monarquistas e grande simpatia e aceitação popular. Este é o ponto de partida do filme A Rainha, do diretor Stephen Frears. Já a oposição midiática passa a ser travada mais acirradamente a partir de um acontecimento específico e determinante: a morte da princesa Diana. A tragédia impõe reações políticas de ambos os lados, e o filme explora o modo como se dão estas diferentes reações não apenas na mídia, mas, principalmente, a partir da relação com a mídia.
A primeira medida adotada por Tony Blair após a confirmação da morte de Diana é fazer uma declaração pública de pêsames. Com grande apelo sentimental e usando expressões como “a princesa do povo”, seu discurso cai no gosto da opinião pública e da mídia, que o incorpora como mais um dos elementos de que necessita para fazer da notícia um grande espetáculo. Já a rainha recusa-se a dar qualquer declaração, gerando, também, uma grande repercussão, porém, negativa. Cristalizadas imediatamente estas duas imagens – a positiva e louvável de Tony Blair e negativa e reprovável da rainha –, os atores políticos passam a reagir de acordo com elas, numa séria de decisões politicamente bem sucedidas ou numa sucessão de erros políticos. Mais que as figuras humanas, o que está em jogo é a imagem das instituições, e a Monarquia começa a ser simbolicamente ameaçada em virtude da recusa de sua representante em participar do jogo de cena montado em torno do acontecimento. A imprensa inglesa, por sua vez, vai saber explorar cada um desses elementos, de maneira a compor o grande “conto de fadas” que tenta vender: a rainha má, o herói do povo, a princesa morta. A princesa, que viveu como importante fator mercadológico da imprensa, sendo usada e ao mesmo tempo usando a mídia, consegue, em sua morte, tornar-se a notícia por excelência, vendendo mais que nunca.
Mesmo relutante, aos poucos, a rainha compreende a importância de dançar conforme a música e começa a fazer concessões, aconselhada, ironicamente pelo Primeiro-ministro. Aceita, inicialmente, as mudanças nas determinações do funeral da princesa que, de uma cerimônia simples e reservada aos familiares, transforma-se em um grande evento, contando inclusive com a participação especial de artistas convidados. Em outro momento, concorda em ver as flores deixadas por fãs, primeiro na casa de campo onde estava, depois, no Palácio de Buckingham. A última grande concessão é a declaração pública, transmitida ao vivo pela televisão. Com este ato supremo de submissão, a rainha faz as pazes com o povo e com a imprensa, salvando, assim, a imagem da Monarquia e reforçando ainda mais a boa imagem de Tony Blair.
O filme é um recorte de um momento histórico importante, ajudando a compreender o modo como a imprensa tornou-se, mais do que nunca, uma grande fábrica de imagens e produtora de espetáculos, permeando todas as instâncias sociais e relações políticas. Para poder ser, é preciso ter uma imagem que venda e agrade. Inclusive a rainha da Inglaterra.
(Resenha escrita para a disciplina Ética e Legislação Jornalística)
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terça-feira, 4 de maio de 2010
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