terça-feira, 13 de abril de 2010

Mosquito transgênico: o fim da picada?

Você já deve ter ouvido falar no Mosquito Transgênico. Resultado de uma pesquisa recentemente divulgada na internet, o mosquito é apresentado como a possível solução da Dengue. Motivo? Ele não pega e não passa a doença, além de resistir aos inseticidas. E como é a fêmea do mosquito Aedes Aegipty que transfere a doença e põe os ovos, ele copularia com ela, que morreria pouco depois do ato. Achou brilhante? Então reflita: O novo monsquito, ainda desconhecido, não morre com inseticidas. Logo, a cura de hoje pode se transformar em uma praga amanhã. Dúvidas? O Jornal Entrevista foi buscar algumas respostas para você.



Devido às altas temperaturas registradas nos últimos meses e o grande volume de chuvas, a proliferação do mosquito transmissor da dengue se tornou propícia. Segundo dados fornecidos pela assessoria de imprensa de Guarujá, somente na cidade foram confirmados 351 casos até o dia 24 de fevereiro. Alternativas, como a criação de um mosquito transgênico, já estão sendo estudadas, mas, por enquanto, a eliminação dos criadouros das larvas é o principal método utilizado como forma de prevenção à doença.

A revista Proceedings of the National Academy of Sciences publicou um estudo realizado por pesquisadores das universidades de Oxford (Inglaterra) e da Califórnia (EUA). Nele, é apresentada a criação de mosquitos geneticamente modificados como alternativa para tentar conter a propagação do vírus da dengue, que é transmitido pela picada da fêmea do Aedes aegypti. Essa alteração genética faria com que as fêmeas tivessem o desenvolvimento de suas asas prejudicado, limitando sua capacidade de voar.

ALVOROÇO

Para o professor de Ecologia Ronaldo Francini, a proposta da criação e soltura de mosquitos transgênicos no meio ambiente esbarra em uma série de problemas científicos e econômicos. “Levaria muitos anos para realmente ser eficiente. Somente após estudos muito aprofundados, testes em pequenos ambientes isolados e uma sé­rie de experiências seria seguro liberar os mosquitos geneticamente modificados sem haver sequelas. Para ser viável, seria preciso criar esses mosquitos em escala industrial. Exigiria um enorme trabalho de logística, além de depender do Governo, que avaliaria quanto custaria esse investimento”, afirma o professor.
Francini completa que seria extremamente perigoso soltar os mosquitos transgênicos com a intenção de eliminar o problema da dengue de imediato, sem passar por uma sequência de testes. “Tudo que aconteceu no passado nos faz agir com cautela. É preciso pensar o que estará sendo salvo a longo prazo, do que adianta salvar 10 mil pessoas de dengue e matar 100 mil posteriormente por um problema futuro”, diz.

A pesquisadora Marluci Guirado, por sua vez, afirma no artigo “Alguns aspectos do controle populacional e da resistência a inseticidas em Aedes aegypti”, que a experiência que já se tem com outros organismos tem levado à conclusão de que o sequenciamento gênico de um organismo é “um novo começo”, no que se refere às dificuldades iniciais que podem fazer com que resultados significativos demorem um tempo imprevisível para aparecer.

“Na manipulação do genoma, complexas interações gênicas geralmente são quebradas, e por serem desconhecidas em sua extensão geram, na maioria das vezes, resultados inesperados e ineficientes”. A pesquisadora ainda cita que os mosquitos transgênicos, quando estão sozinhos, são rapidamente eliminados na competição com o mosquito que não sofreu alteração genética. “O genoma do mosquito ‘normal’ é produto de milhares de anos de julgamento pela seleção natural, e sua capacidade reprodutiva, muito maior. Apesar da variação dos processos utilizados nos diferentes laboratórios em sua construção, os mosquitos transgênicos apresentam desvantagens, relacionadas no mínimo com a capacidade reprodutiva diminuída”.

Marluci conclui em seu artigo que, por enquanto, o principal método utilizado para a diminuição do número de casos de dengue ainda é a eliminação de criadouros das larvas do mosquito como pratos e vasos de planta, bebedouros de animais, pneus, ralos externos e internos, calhas, lajes e materiais inservíveis. “As dificuldades existentes indicam que durante um tempo, mais ou menos longo, vamos continuar dependentes exclusivamente dos métodos de controle da dengue por meio do controle do Aedes aegypti, hoje subordinado, grandemente, ao comprometimento da população com a eliminação dos criadouros”.


Matéria feita por Ana Luiza Monteiro - publicada na Edição n° 1 do Jornal Entrevista

0 comentários:

Postar um comentário