Sentado na cadeira de rodas enferrujada, com um olhar perdido e triste, Antenor José Figueiredo, aos 67 anos, só tem como companhia os caminhões estacionados na rua e um banquinho branco de plástico ao seu lado. Atrás dele, duas portas azuis firmemente fechadas com grossas correntes e cadeado. Esse autêntico cárcere fica na Rua Visconde de Vergueiro, no Centro de Santos, onde ele passa as tardes de todos os dias, até que o proprietário do pequeno quarto em que mora de aluguel chegue para abrir a porta.”Ele (o proprietário) sai cedo e não deixa a porta aberta, então para eu não ficar trancado para o lado de dentro prefiro ficar aqui na calçada”, diz ele.
Antenor é um motorista aposentado, não tem família e sofreu um derrame , que fez com que perdesse parte dos movimentos. Fala com dificuldade e não consegue andar. Nessas condições, esse senhor depende da boa vontade de quem mora por perto para ir ao banheiro ou socorrê-lo em algum imprevisto. Ele só se alimenta quando o proprietário retorna. Passa o dia inteiro ali, sem água ou qualquer tipo de comida. “Quando chove não tem o que fazer”.
A situação em que Antenor vive foi relatada a um dos agentes comunitários do Centro de Santos, que se mostrou surpreso. “Ele nunca me contou que ficava preso para fora de casa. O que eu sei é que ele não come adequadamente e é só uma vez por dia, quando o proprietário chega, e que a comida é muito salgada. Eu repassei esses problemas para a enfermeira responsável e ela está providenciando um lugar para ele ir, mas isso demora.”
Uma semana após o primeiro contato, a equipe do Mural retornou ao local. Desta vez, a porta do quarto alugado por Antenor estava aberta. Então, foi possível entender por que aquele homem preferia permanecer na calçada, e enfrentar situações humilhantes.
No chão do quarto, poças de água formadas pela chuva, lixo, entulho e vários recipientes com ração para gatos. Eram aproximadamente seis animais, que corriam e urinavam no local. As paredes brancas, muito sujas e de azulejo. O cheiro do quarto é uma mistura de mofo, urina de gato, lixo e vala.
Naquele dia, o agente comunitário levou remédios para Antenor e para outro inquilino que dividia o quarto com ele.
No último contato que a equipe do Mural estabeleceu com o agente de saúde, ele agradeceu por ter sido alertado sobre o caso e disse que depois da última visita, na qual foram tiradas fotos, o proprietário começou a deixar uma chave pendurada no pescoço de Antenor para que ele possa entrar se houver necessidade.
Brenda Duarte
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