segunda-feira, 17 de maio de 2010

Com as próprias mãos


Matérias de Nathália Geraldo e Natasha Guerrize publicadas no jornal Mural do Centro (edição de outubro/2009). Foto por Fabíola Ferreira. O conjunto Vanguarda é uma iniciativa da Associação dos Cortiços do Centro (ACC) de Santos que resolveu construir o sonho de uma moradia com as próprias mãos.
O conjunto habitacional Vanguarda é um projeto pioneiro na Baixada Santista. Pelo menos uma pessoa de cada uma das 113 famílias que vão ocupar os imóveis trabalha na construção da própria moradia. Isso acontece desde janeiro deste ano. Os apartamentos têm até três quartos e atendem à população do Paquetá, da Vila Nova, do Valongo e da Vila Mathias.
Os novos prédios ficam na Rua General Câmara com a Rua dos Estivadores, em um terreno de 6,5 mil m² cedido pela Secretaria de Patrimônio da União. A Associação dos Cortiços do Centro (ACC), responsável pela busca de recursos para o empreendimento, selecionou os moradores pelo envolvimento de cada um no processo de viabilização da obra.
Os recursos envolvem R$ 3,4 milhões do Governo Federal, cerca de R$ 900 mil do Governo do Estado e ainda R$ 240 mil descontados pelo trabalho dos beneficiados. A ONG Ambienta é responsável pelo projeto e vai desenvolver no Vanguarda um sistema sustentável de aproveitamento da água da chuva e separação do lixo.
O conjunto terá quatro blocos de apartamentos, boxes comerciais para geração de renda, área de lazer e salão de festas. Segundo a presidente da ACC, Samara Faustino, a ideia foi fazer o conjunto atendendo às necessidades das famílias. "Os moradores ficaram tão empolgados que querem construir até uma churrasqueira".
Após a entrega dos apartamentos, os moradores vão pagar mensalidade de R$ 125 por 20 anos. Pagando em dia, o financiamento pode ser reduzido para 17 anos.
Diante da procura pelo Vanguarda, outro projeto da ACC já aprovado para a construção de mais 68 moradias no mesmo terreno está em fase de busca de recursos.

Sacrifício que compensa

Mexer na terra, ou no cimento, não é problema para Lourdes Basílio, de 54 anos. Gaúcha de origem, e há 38 anos em Santos, a faxineira tem outro motivo para celebrar a conquista da casa própria. Ela mesma participou da construção, trabalhando como auxiliar das obras. Assim como outras famílias, Lourdes e os filhos serão contemplados com apartamento de um quarto.
O desafio não é dos mais fáceis. Além de trabalhar como diarista nos dias de semana, Lourdes tem de se dedicar ao mutirão aos sábados e domingos até completar 11 horas de atividades.
Mãe de dois filhos - um deles, Bruno, também auxilia no mutirão -, ela ainda consegue arrumar tempo durante o almoço de sábado para levar a filha na escola. “Por causa da gripe, ela estuda aos sábados para repor aula. Mas vale a pena todo o esforço para conciliar os trabalhos e a família”, garante Lourdes.
A diarista aprendeu, depois de 54 anos, que ter um lugar próprio para morar não é um sonho impossível. “Minha maior alegria é saber que essa conquista não é só minha, mas também dos meus filhos”, diz. Assim como seu conterrâneo, o escritor Érico Veríssimo, Lourdes pode dizer que a vida começa todos os dias.

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